TEATRO GUAPORÉ: Espetáculo de dança aborda o feminicídio e a violência contra a mulher 1m1h1x

No dia 25 de janeiro de 2020, Maria Glória Poltronieri, a Magó, bailarina e capoeirista, decidiu acampar sozinha em uma chácara próxima a Maringá, PR. No fim da tarde, desceu para uma cachoeira e não retornou. Na manhã seguinte, sua irmã, Ana Clara Poltronieri, encontrou o corpo de Magó, com sinais de violência sexual e estrangulamento. O caso chocou o Brasil e o mundo, gerando manifestações em mais de 17 cidades, na América Latina e Europa, em repúdio ao feminicídio e em homenagem à sua memória.

Cultura do estupro

Em meio ao luto e à busca por justiça, Ana Clara reuniu forças para criar "AMANA", um espetáculo que homenageia sua irmã e reflete sobre a cultura do estupro, o machismo e a violência contra as mulheres. Para dirigir o projeto, Ana convidou Tânia Farias, atriz e diretora da tribo de atuadores öi Nóiz aqui Traveiz de Porto Alegre, que trouxe sua vasta experiência para dar vida a essa obra de resistência e ressignificação.

AMANA estreou em Maringá, PR, em maio de 2023, no Teatro Reviver Magó, que leva o nome de Maria Glória. A temporada foi um sucesso, com ingressos esgotados em todas as seis apresentações.

Prêmios

O cenário, composto por mais de 70 potes de vidro, água e luzes, foi o primeiro prêmio conquistado por Amana. O Prêmio de Cultura Arquitetônica do Instituto dos Arquitetos do Paraná pelo cenário inovador. Em junho de 2023, "AMANA" fez uma segunda temporada em São Paulo, no Teatro Centro da Terra, sendo a primeira vez que uma programação de dança esgotou a bilheteria do espaço.

Em agosto de 2023, o espetáculo retornou a Maringá para mais três apresentações, todas com ingressos esgotados. Em janeiro de 2024, Ana Clara foi premiada como Melhor Intérprete no Prêmio Denilto Gomes de Dança da Cooperativa Paulista de Dança. O espetáculo também foi apresentado na Itália, durante o festival Equilibri em Bolonha, onde foi aclamado e ovacionado pelo público, consolidando seu impacto internacional.

Manifestação poética

AMANA é um manifesto poético contra a barbárie do machismo e da misoginia, utilizando a delicadeza para expressar a urgência do fim da violência contra as mulheres. Através do elemento água, o espetáculo evoca o fluxo da memória, da denúncia e da resistência. As águas representam os corpos das mulheres, o sangue pulsante da artista e o movimento incessante da vida. O espetáculo busca, assim, fazer com que o público perceba que, por trás das estatísticas frias, existem histórias, afetos e subjetividades.

O espetáculo também se tornou um grito por justiça, pelo combate ao feminicídio e por todos os tipos de violência contra a mulher. Uma forma de luta contra o esquecimento que tantas vezes torna injustamente invisíveis as mulheres agredidas e vitimadas.

Em Amana, Ana Clara mostra toda a força resiliente de Magó, sua parceira da dança e da vida, com uma intensidade que transmite o sentimento sem limite do amor, liberto em música, poesia e movimento. Um palco que tem Magó presente.

Formalmente, "AMANA" cruza as linguagens da performance, dança, teatro, audiovisual e artes visuais, compondo uma obra fluida e potente. Seu objetivo é garantir que, assim como nunca entramos duas vezes no mesmo rio, possamos deixar um mundo em que nenhuma mulher precise se acostumar com o medo e a violência.

Edital Klauss Vianna

Circulação do Espetáculo "AMANA" pelo Edital Bolsa Funarte de Dança Klauss Vianna

A circulação do espetáculo "AMANA" é realizada por meio do edital, Bolsa Funarte de Dança Klauss Vianna, possibilita levar a força e a sensibilidade da obra para 7 diversas cidades do Brasil, promovendo o o à cultura e expandindo o diálogo sobre temas urgentes, como a violência de gênero, o feminicídio e a resistência feminina, presentes no espetáculo.

Os estados de Mato Grosso do Sul e Rondônia foram escolhidos a dedo para essa circulação, pois foram os estados com maiores índices de feminicídio nos últimos anos. Já o Estado do Paraná, é o estado onde as irmãs cresceram produzindo arte juntas. Ir até a capital do estado com o espetáculo é um marco na trajetória da Companhia.

Homenageada

Magó, a homenageada de Amana, teve uma trajetória marcante na dança Brasileira. Atuou na Cia Carne Agonizante, de Sandro Borelli, e no NIC – Núcleo Improvisação em Contato, de Ricardo Neves ambas em São Paulo. Trabalhou com artistas como Nita Little, Bruno Caverna, Vanessa Macedo, Mark Taylor e Victor Abreu, explorando dança contemporânea, educação somática e contato improvisação. Em 2017, fundou com Ana Clara a Cia Duo Due, voltada à pesquisa e criação em dança contemporânea, com atuação entre Maringá e São Paulo. Conhecida por sua abordagem multidisciplinar, a companhia usa o improviso como ferramenta essencial e acumula importantes premiações e incentivos à dança no Brasil.

Sinopse do Trabalho

AMANA em tupí: água que vem do céu.

A água, este elemento feminino, conduz o caminho deste rito para evocar a história de duas irmãs separadas por uma tragédia. Uma cena onde momento presente e memória se misturam pra contar as lembranças amorosas, a luta e o luto.

Relembra a história de Magó, a bailarina vítima de feminicídio, que tocou o coração do mundo com sua história. Em AMANA a narrativa é construída com movimento, palavra e depoimento, e é corpo pulsante e memorioso.

De forma poética e sensível, as criadoras Ana Clara Poltronieri e Tânia Farias fazem do espetáculo um gesto de basta ao feminicídio e a violência que todas as mulheres vivem cotidianamente.

 Cia Duo Due

A Cia Duo Due, é uma companhia focada em pesquisa e criação em dança contemporânea atuando entre Maringá – PR e a capital Paulistana. Se destaca por sua abordagem multidisciplinar que une dança, teatro, circo, improvisação e relações interpessoais. Desde sua criação, a companhia tem se dedicado a explorar a improvisação como uma ferramenta essencial em sua prática artística. Com atuação nacional e internacional, a Cia foi contemplada com alguns dos grandes prêmios e editais de incentivo à dança no Brasil, reafirmando seu compromisso com a pesquisa continuada.

 Ana Clara Poltronieri

Ana Clara Poltronieri é bailarina, coreógrafa, educadora somática, professora de dança contemporânea e preparadora corporal. Desenvolve sua pesquisa com fundamentos do improviso cênico entre dança e teatro. Graduada em Artes Cênicas pela Universidade Estadual de Maringá - PR e especialista em Técnica Klauss Vianna pela Pontifícia Universidade Católica - PUC-SP. Mestranda no programa de pós graduação em artes da Cena da Unicamp e Bolsista CAPES.

Formada em dança pela Art factory International no programa Dance Start Up IV - sob direção de Brigel Gjokas em Bolonha - Itália. E no percurso MoDem coletivo jovem da companhia Zappalà Danza - Sicilia - Itália - com direção de Roberto Zappalà. Ana é Co-criadora da Cia Duo Due de dança fundada em 2018. Atualmente colabora com a Cia No Rastro com direção de Henrique Lima e no núcleo de Improviso Cênico Diogo Granato. Está em processo de direção do trabalho GRAVIDADE do grupo Corpo Intensa de Maringá - PR e do trabalho OBLÍVIA de Anna Gongora.
Cia Duo Due.
 

Ficha Técnica

Direção: Tânia Farias
Coreografia: Ana Clara Poltronieri Borges e Maria Glória Poltronieri Borges
Intérprete: Ana Clara Poltronieri
Dramaturgia: Ana Clara Poltronieri e Tânia Farias
Iluminador: Leandro Gass
Trilha Sonora Original: Adilson Filho e Daniel Lupo
Sonoplastia e Projeção: Vanderlei Junior
Concepção cenográfica: Tânia Farias
Projetista das peças em acrílico: Fernanda di Benedetto
Execução cenográfica: Infinity CNC e JRC de Souza
Concepção Figurino: Tânia Farias
Execução Figurino: Tecido de Lua
Produção: Cia Duo Due e Candelabro Produção Cênica